sexta-feira, 6 de maio de 2011

Contos - "Ilusão vermelha"



 Era tarde da noite quando Jenna deitou na areia da praia, estava sozinha, desolada, seus cabelos se esparramaram quando deitou e a culpa veio novamente, ela tinha apenas quinze anos e se considerava a gótica mais poderosa da turma, aquilo acabaria com sua fama e sua vida, se lembrou da festa onde tudo aconteceu e depois do Tyler, o causador de todo aquele sofrimento.
  Ela tentou gritar mais a voz não lhe veio à garganta, sentia raiva e ao mesmo tempo felicidade, o que estava por vir poderia ser a luz em sua vida, mas também as trevas.
  O teste de gravidez foi arremessado contra o mar e o pequeno feixe azul pôde ser visto rapidamente, o teste tinha dado positivo e foi a gota d’água para o desespero, os enjôos, os choros, tudo começou naquela noite. Ela se levantou e ficou de joelhos, seu corpo começava a afundar levemente na areia, ela agora sentia o peso da criança que carregava, ou era apenas o peso de suas roupas? 
  Isso ela já não pensava, o vento fez com que seus cabelos negros lhe chicoteassem o rosto e que as lagrimas lhe escorressem pelas bochechas, ela se sentia destruída, não queria que a criança que estava carregando fosse filha da sua irresponsabilidade, ela queria que aquela noite nunca tivesse acontecido que aquela festa gótica não tivesse ocorrido e que o seu encontro com Tyler tivesse sido um simples aperto de mão, isso não ocorreu, todas as vezes que lembrava que estava grávida lhe vinha à cabeça: Tyler, a noite, as conversas, as danças e o estopim: a transa.
  Jenna tentava esquecer, se concentrar no futuro, no que faria com a criança até que uma idéia veio em sua cabeça, o abandono, era preciso, era o certo, ela não tinha condições psicológicas para ser mãe, dinheiro não era problema nem a aceitação dos pais, ela era muito rica, possuía uma família unida e liberal, mas sua cabeça não podia fazer isso, ela precisava ser livre, ela não podia abandonar.
 
  Quando cansou de se lamentar pisou forte na areia e se levantou, caminhava na praia deserta, a água batia em seus pés e o frio se espalhava pelo seu corpo, ela pensava numa solução para o problema, mas nenhuma boa o suficiente lhe vinha à cabeça, apenas caminhava, não queria mais pensar em nada, ela queria se sentir livre, quando suas pernas fraquejaram ela caiu, uma tontura invadiu seu corpo, ela viu tudo girar e lentamente se abaixou, sentou novamente na areia e dessa vez gritou, a voz voltou ao seu corpo, ela queria morrer, queria matar ou apenas chorar.
  Ela estava cansada da sua sensibilidade e decidiu que mesmo naquele estado correria, era uma das coisas que ela sentia livre ao fazer, correr, com o vento batendo no rosto. Quando começou a correr seus instintos a abandonaram, ela cambaleava com a velocidade da corrida, a tontura se tornava mais forte a cada minuto e suas pernas começavam a bambolear, até que ela vê uma coisa que lhe chama a atenção, uma rosa vermelha nascia numa pedra não muito longe da costa, ela precisaria nadar não muitos metros para chegar lá, ela parou e olhou na direção da rosa, será que aquilo seria a solução de seus problemas, algo divino, algo bom. Ela não esperou para saber, tirou a roupa que tanto a atrapalhava e entrou no mar, o frio se abateu do seu corpo e a fez tremer, isso não abalou sua ferocidade, ela queria chegar até a rosa, queria tocá-la, seus braços batiam tão fortes no mar revolto que começaram a doer, mesmo assim Jenna não parou, nadou até a pedra, subiu  a superfície da pedra, era molhada, seu corpo nu não se adaptou bem ao frio que a pedra passava e logo começou a tremer. Agora podia ver com mais nitidez que aquela rosa não passava de uma pedra cintilante vermelha, não bastava a vida, agora os olhos estavam lhe pregando peça? Ela caiu sobre os joelhos e sentiu a base crespa da pedra lhe arranhar, quando o sangue escorreu fez com que os seus joelhos, que agora queimavam esquentarem um pouco, aquela dor não era nada para o que sentia ao ver que estava enlouquecendo, tudo era culpa daquela criança, quando pensou nisto se esmurrou, sua mão fechada bateu com tanta força na barriga que ela pode ouvir o grito do bebê que ali dormia, no mesmo instante a mão livre bateu na superfície da pedra e as lagrimas brotaram de seus olhos, ela sentiu algo escorrer pelas pernas e viu que era sangue, o murro tinha sido o suficiente para afetar alguma coisa dentro dela. Ela se deitou na pedra e começou a chorar, seu desespero era enorme, ninguém sabia o que estava acontecendo apenas ela e isso era o bastante para a loucura, uma decisão surgiu, ela parecia ter acabado com a vida que jazia em seu útero e não teria mais com o que se preocupar, mas sua vida não seria a mesma e ela não queria sentir culpa, o único jeito de esquecer a dor era a fazendo ir embora de uma só vez, era morrendo.

  Se levantando rapidamente e indo a encontro da água Jenna tinha feito à escolha, ela queria viver onde se podia viver sem dor, quando os seus pés tocaram a água ela viu que era uma escolha importante e não ligou, queria sair daquele mundo onde tudo se baseava em rótulos e viver com a criança que estava esperando, metade do seu corpo já estava na água quando mergulhou com os olhos fechados se despediu do mundo e tocou de leve a barriga: “ Nós vamos viver querido, não aqui, mas vamos.”, pensou para apenas o bebê escutar, quando a água invadiu os seus pulmões sentiu que era hora de não reagir, ela sabia que a morte era o melhor lugar e que era seu destino.

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