sábado, 7 de maio de 2011

Contos - "Vingança Líquida"



 O elevador subia com uma velocidade anormal, de dentro escutava-se o rápido puxar das cordas de aço, o único botão que foi apertado era o numero 50 o ultimo andar, a cobertura, o teto, o ponto de observação. Dentro do elevador se encontrava um homem, se pode se dizer assim por conta do seu sexo, ele aparentava estar aos 20 anos, magro com as feições tensas, seu cabelo lhe caia aos olhos e seus óculos quadrados caiam a ponta do nariz, de seus braços que estavam dentro de um jaleco branco que cobria todo seu corpo, se via apenas as mãos, que com luvas seguravam um frasco com um liquido verde florescente dentro. Pelo crachá pendurado em seu pescoço lia-se o seu nome “Travis”.

  O jaleco esvoaçou quando as portas do elevador se abriram e uma forte rachada de vento entrou no pequeno cubículo metálico, Travis andou com passos rápidos até o final da cobertura do grande prédio, ainda segurando o frasco olhou para a vastidão abaixo, olhou todas aquelas pessoas indo e vindo, rindo e chorando, correndo e andando, seus olhos ficaram negros um sorriso malicioso apareceu em seu rosto, ele lembrou do tempo em que era excluído, zombado, ridicularizado pelos garotos da sua idade, do tempo em que sua inteligência era desperdiçada e seu tempo também.
  Veio-lhe a mente o tempo em que ele entrou no laboratório, hoje onde trabalha, ele era o mais novo, ainda é, era deixado de lado até que ganhou seu respeito, grandeza, mas sempre a angustia de ter sido ridicularizado quando era jovem, de nunca ter um verdadeiro amor vinha a tona, ele queria vingança, queria ver aqueles que o ridicularizaram sofrendo, sendo controlados, sendo mortos. Ele nunca revelou sua pesquisa a ninguém, apenas a si mesmo, era um simples frasco com uma substância florescente, mas que significava seu triunfo, estava tudo calculado, em alguns momentos Travis iria comandar quem tivesse o contato com o liquido, ele iria ditar as regras do novo mundo, pensava alto, sua experiência faria com que os sentidos de comando da consciência dos humanos se fossem e ele ficaria ordenando o que fazer, isso se passaria de pessoa a pessoa com apenas o contato.

  Travis retirou do bolso do jaleco uma pequena pistola, não igual as outras que são carregadas por balas e sim uma que o pequeno frasco entraria, encaixou o fraco e apontou para cima, seu dedo não demorou a apertar o gatilho, o frasco voou para longe e caiu, na queda a pressão o fez estourar , o liquido verde voou em todas as direções batendo em todas as pessoas. Nos momentos seguintes do contato as pessoas começaram a cair, caiam, não parava, umas tocavam nas outras e não parava, a rua estava toda coberta por corpos, de repente começaram a se levantar, eles  ficaram parados em pé olhando com as pupilas vidradas para algo, algo surreal, algo novo, algo irreconhecível.

  Aquelas novas criaturas olhavam para Travis, sabiam que dele vinha as novas ordens, mesmo sem consciência, aquilo era algo automático, no caso. Travis as olhou e de repente se assustou, uma delas apontou para ele e soltou um grito agudo e irreconhecível, todas as novas criaturas o olharam e de algum modo tomaram atitudes monstruosas, pularam e escalaram o prédio uma atrás da outra, escalavam a sua procura, agora eles eram Zumbis, iriam caçar aqueles com vida até o fim. Travis correu até o elevador, agora fechado, clicou até cansar no botão, o desespero o tinha atingido, viu que tudo deu errado e que o apocalipse tinha começado, ele apertou mais algumas vezes e chorou, olhou para os Zumbis vindo em sua direção e pediu desculpas, desculpas pelo fim, desculpas pela destruição, desculpas pela morte.

  Os Zumbis o pegaram e o comeram, não deixaram uma só parte inteira, o sangue formou uma poça na porta do elevador e dali em diante o que seria vingança se tornou o apocalipse total, o fim da humanidade o fim da vida.

  Nunca se encontrou uma cura pois aquele que poderia tê-la se foi, não deixando nenhum tipo de instrução ou experiência, apenas a morte.

  Travis havia morrido e seu corpo vagava por ai, ou pelo menos uma parte dele, sem consciência sem alma, sua alma vivia na solidão profunda.

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